Dra. Ruth Bancewicz
Todas as descobertas científicas ou novas tecnologias podem ser usadas para ajudar ou prejudicar outras pessoas. Por exemplo, um smartphone possibilita manter contato e compartilhar fotos de amigos e familiares, mas também permite o bullying ou a visualização de imagens inúteis. A ciência nos diz como o mundo funciona, e a tecnologia oferece uma gama de aplicações possíveis desse conhecimento, mas nenhuma delas pode nos dizer o que é certo fazer.
Então, como podemos tomar decisões éticas sobre tecnologias completamente novas, como edição de genes em seres humanos ou carros autônomos? É importante superar nossas reações iniciais: o ‘ui!’ ou o ‘uau!’ que podemos sentir intuitivamente quando ouvimos falar sobre um transplante de rosto ou o lançamento de um foguete. Esses sentimentos podem ser moderados ou modificados quando aprendemos mais sobre a ciência e outros fatores por trás de um novo desenvolvimento, pensando cuidadosamente sobre ele de diferentes ângulos, de preferência em conversas com várias outras pessoas que têm experiências ou conhecimentos diferentes.
O pensamento ético pode ser dividido em três categorias principais. Primeiro, temos a abordagem consequencialista. Essa maneira de pensar é demonstrada em Provérbios, quando a Sabedoria chama os jovens para considerarem o resultado de suas ações. O utilitarismo é uma forma de ética consequencialista que tenta maximizar o maior bem para o maior número de pessoas afetadas e frequentemente desempenha um papel importante nas políticas públicas. Se a ética for puramente utilitária, no entanto, ela pode deixar as minorias de fora. O cristão, por outro lado, pode dizer que a consequência última das coisas é glorificar a Deus, amando a ele e ao próximo, mas outras formas de pensamento ético são importantes para alcançar esse resultado.
A ética baseada no dever ou na lei (deontológica) começa com valores intrínsecos, perguntando ‘Qual é o curso de ação correto ou qual é o nosso dever?’. Esses valores ou leis podem ser valores morais dados por Deus ou elaborados pela razão humana, como os quatro princípios que são comumente usados em decisões éticas hoje: respeito pela autonomia; fazer nenhum mal; tentar fazer o bem; buscar justiça. A Bíblia fornece sua própria forma simplificada de lei nos dez mandamentos. Na prática, apenas seguir a ética deontológica também pode criar dificuldades. É possível causar um grande dano ao obedecer a lei ao pé da letra, especialmente se a pessoa envolvida está perguntando ‘Com o que eu posso me safar?’ Além disso, o que acontece quando as regras colidem? Por exemplo, quando os recursos são limitados, quem deve ser tratado primeiro?
A ética da virtude pergunta: que tipo de pessoa devo ser e como posso agir de acordo com o espírito da lei? Existem muitos princípios bíblicos amplos para orientar uma vida virtuosa, tais como:
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Somos feitos à ‘imagem de Deus’. Nisso se sustenta o valor e a dignidade de cada vida humana (por exemplo, Gênesis 1:26-27, Gênesis 9:6, Tiago 3:9-10).
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Cada indivíduo é importante, independentemente de suas habilidades e se estas são de base genética ou não. (Por exemplo, Gálatas 3:26-29, Romanos 12:4-8).
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Ame o seu próximo como a si mesmo, zele pelos interesses dos outros. (Por exemplo, Marcos 12:31, Filipenses 2:3-4).
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É necessário proteger e cuidar dos vulneráveis. (Por exemplo, Deuteronômio 10:18).
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Cuide dos que sofrem. (Por exemplo, Mateus 25:31-46).
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As crianças são presentes de Deus. (Por exemplo, Salmos 127:3a).
A ética da virtude trata da construção do caráter e do crescimento da sabedoria e do fruto do Espírito, reconhecendo que a decisão certa às vezes pode variar dependendo das circunstâncias (e às vezes pode até ir contra a lei). Por exemplo, durante os primeiros dias da pandemia de COVID-19, algumas cirurgias que normalmente seriam consideradas urgentes foram canceladas a fim de priorizar o atendimento de pacientes com a forma aguda de COVID. Essas são decisões difíceis para as quais nem sempre existe uma única resposta certa. A questão é: podemos confiar em nós mesmos e nos outros para se comportar virtuosamente em todas as circunstâncias? O cristão está ciente da pecaminosidade humana e de nossa necessidade de Deus para nos redimir, ajudar e guiar em todas essas situações.
Em última análise, nenhuma regra ou princípio único funcionará em todas as situações. A ciência e a tecnologia trazem novas questões praticamente todos os dias, e nem sempre podemos contar com velhos precedentes para respondê-las. Se quisermos avançar no pensamento e na ação ética, teremos que adotar uma abordagem diferenciada, valendo-se do melhor dos princípios éticos de que dispomos. Os cinco Cs são uma forma de ajudar a orientar as decisões, trazendo vários tipos diferentes de pensamento ético à mistura.
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Clarifique: esclareça os fatos e questões-chave.
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Considere as escolhas: o que poderíamos alcançar?
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Contenções:
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Externas – o que devemos fazer?
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Internas – como devemos nos comportar?
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Compare os prós e os contras de cada abordagem.
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Confirme, escolhendo o que é melhor pensando em todas as partes.
Temos que reconhecer que os dados disponíveis para nós mudarão com o tempo, nosso conhecimento de Deus e de sua palavra continuará crescendo e nem sempre podemos evitar cometer erros, então as decisões que tomamos precisarão ser revisadas de tempos em tempos.
Felizmente, muitas vezes há especialistas dispostos a publicar recursos acessíveis nas questões mais especializadas – e isso é parte do trabalho do The Faraday Institute. É claro que cada leitor precisará avaliar o pensamento ético do ponto de vista das crenças centrais de sua denominação ou igreja. Algumas denominações até produzem suas próprias publicações sobre questões éticas contemporâneas. Também vale a pena prestar atenção à ficção científica, que explora as tecnologias que podem muito bem estar conosco no futuro. À medida que o conhecimento científico crescer e as tecnologias progredirem, precisaremos desenvolver o hábito de reservar tempo para refletir e responder de maneira prática às novas questões levantadas, ajudando as pessoas e o restante da criação a florescer como Deus planejou.
Recursos adicionais (em inglês)