INTELLIGENCE OF PLANTS 01 - Associação Brasileira de Cristãos na Ciência: ABC²

Redes de plantas podem realizar coisas surpreendentes. Um estudo, por exemplo, mostrou que as árvores em uma floresta estão interconectadas por meio dos fungos que crescem em torno de suas raízes. Um produto químico radioativo injetado em uma árvore logo aparece em outra. Esses dados também mostraram que árvores de uma mesma espécie parecem nutrir as mais jovens, ou até compartilhar recursos com outras espécies – como acontece entre coníferas e árvores decíduas quando estas perdem suas folhas.

À primeira vista, você poderia pensar que um botânico que fala em “inteligência das plantas” passou tempo demais em uma estufa quente. O famoso (e controverso) livro de 1973 A Vida Secreta das Plantas se baseava em ciência duvidosa que levou muita gente a correr para a horta em busca de uma comunhão – frustrada – com a natureza. Mas, de fato, existe um lado cientificamente respeitável nesse campo. Pesquisas em fisiologia vegetal têm revelado paralelos realmente interessantes com outras formas de inteligência, que merecem investigação.

Definições de inteligência geralmente focam em animais, incluindo raciocínio e consciência subjetiva. De forma mais ampla, porém, inteligência pode ser entendida simplesmente como a capacidade de perceber algo, processar ou reter informações sobre essa percepção e, em seguida, responder a ela. Esse “conhecimento” pode ser apenas uma memória molecular ou o registro de um estímulo – por exemplo, uma alteração na configuração, concentração ou localização de determinada molécula.

Sob essa definição mais abrangente, outros tipos de organismos também são inteligentes. Bactérias conseguem se comunicar e cooperar em biofilmes; bolores de limo são capazes de navegar em labirintos; e partes do nosso corpo – como o sistema imunológico – aprendem e guardam memórias. Nenhum desses tipos de inteligência envolve cérebros ou até mesmo células nervosas individuais. São redes descentralizadas e inteligentes, que podem perceber mudanças no fluxo de informações e lembrar-se ou responder a elas.

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Uma planta possui muito mais do que cinco sentidos. Ela pode detectar a luz de várias maneiras, a presença de determinadas substâncias no ambiente, umidade, pressão mecânica, gravidade, danos causados por predadores ou parasitas e muito mais. Cada um desses estímulos produz efeitos no crescimento e desenvolvimento da planta.

Os caules reagem negativamente à gravidade, mas crescem em direção à luz e afastam-se de possíveis competidores; as raízes respondem positivamente à gravidade, mas também buscam água e nutrientes; folhas doentes podem ser “amputadas”; e certos compostos químicos são liberados para inibir o crescimento de plantas não relacionadas.

Como não podem simplesmente se mover para evitar problemas, as plantas produzem uma incrível variedade de substâncias químicas que as ajudam a tirar o máximo proveito do ambiente em que estão – algumas das quais nós mesmos utilizamos para tratar nossas doenças. Além disso, têm uma estrutura modular, com regiões e tecidos permanentemente “embrionários”, de modo que, se uma parte for devorada por uma ovelha, o restante da planta sobrevive.

Um grupo de cientistas começou a usar o termo “neurobiologia vegetal” – de forma metafórica – para descrever essa área de estudos, mas alguns colegas se opuseram. Isso desperta receios justificados, em parte devido à ciência duvidosa promovida pelo livro da década de 1970?

Na minha visão, é sempre necessário ter cautela ao falar em neurobiologia vegetal, mas as metáforas têm o seu papel. Elas nos ajudam a enxergar o mundo de novas maneiras e a levantar perguntas mais interessantes para a ciência. Haveria paralelos entre a percepção das plantas e a dos animais? Será que existem formas de inteligência em rede que ainda não exploramos?

 

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O mundo vivo continua a nos surpreender. Quer as plantas possam ou não ser chamadas de “inteligentes”, em qualquer sentido da palavra, suas propriedades extraordinárias são um exemplo maravilhoso das soluções criativas que os organismos vivos encontram para os desafios da vida selvagem. O que acontece se deixarmos de lado, por um momento, nossa visão centrada no ser humano ou no animal? Essa mudança de perspectiva se encaixa muito bem no quadro que a Bíblia apresenta, no qual “toda a criação louva a Deus”, simplesmente por ser aquilo que é. A ideia de “organismos superiores” talvez não seja muito bíblica, a não ser para nos lembrar de nossa responsabilidade de cuidar do mundo. Então, o que podemos aprender com as plantas?

Leitura recomendada

The Intelligent Plant, The New Yorker, 2013

Plant neurobiology: an integrated view of plant signalling”, Brenner et al., Trends in Plant Science, 11 (2006), p413-419

Plant neurobiology: no brain, no gain?”, Alpi et al., Trends in Plant Science, 12 (2007), p135-6

“Aspects of Plant Intelligence”, Anthony Trewavas, in Conway Morris (Ed.), The Deep Structure of Biology (Templeton Press, 2008)

Martin J. Hodson and John A. Bryant, Functional Biology of Plants, (Wiley, 2012)

A, Trewavas, Plant Behaviour and Intelligence, (OUP, 2014)

 

As Maravilhas do Mundo Vivo

Com agradecimentos a John Bryant pela colaboração com este artigo (quaisquer erros remanescentes são de responsabilidade do autor).

TEXTO ORIGINAL: https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/church-resources/posts/the-intelligence-of-plants/

Projeto: The Wonders of The Living World
The Faraday Institute

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