Sejam bem-vindos!

Iniciamos hoje uma nova etapa no diálogo entre fé e ciência no Brasil. Nasce mais uma ferramenta com o intuito de fomentar essa interação, levantar novas questões e avançar!

Gostaria de começar compartilhando com os amigos uma reflexão sintética mas bastante rica sobre o tema, da pena de um dos maiores especialistas do mundo no campo do diálogo de fé e ciência: John Polkinghorne (físico teórico, teólogo, escritor e sacerdote da Igreja Anglicana):

Ciência e teologia têm coisas a dizer uma à outra, uma vez que ambas se preocupam com a busca da verdade, alcançada por meio da crença fundamentada. Entre os tópicos importantes para tal diálogo estão a teologia natural, a criação, a providência divina e os milagres. […] Os participantes do debate entre ciência e religião empregam diversas estratégias, dependendo do que procuram — confronto ou harmonia. O parceiro natural para o diálogo com a ciência é a teologia, a disciplina intelectual que descreve a experiência religiosa, da mesma forma como a ciência descreve a investigação humana do universo físico. Tanto a ciência como a teologia reivindicam explorar a natureza da realidade, mas claramente o fazem em níveis diferentes. O objeto de estudo das ciências naturais é o mundo físico e os seres vivos que nele habitam. As ciências tratam seus assuntos objetivamente, por meio de um modo impessoal de encontro, que emprega a ferramenta investigativa da interrogação experimental. A natureza é submetida a testes, baseados em experimentos passíveis de repetição, tantas vezes quantas o pesquisador quiser. O propósito da ciência é obter uma compreensão precisa de como as coisas acontecem. Sua preocupação é com os processos que ocorrem no mundo. A preocupação da teologia é com a questão da verdade sobre a natureza de Deus, daquele ao qual é próprio se aproximar com reverência e obediência, o qual não está disponível para ser posto sob teste experimental. Como ocorre em todas as formas de relacionamento, o encontro com a realidade transpessoal do divino tem de ser baseado na confiança, e seu caráter é intrinsecamente individual e único. Experiências religiosas não podem simplesmente ser provocadas pela manipulação humana.”

[…] a teologia se baseia nos atos revelatórios de autodesvelamento divino. Em particular, todas as tradições religiosas olham para o passado, para os eventos primordiais nos quais elas tiveram a sua origem, e que desempenham um papel único na constituição de sua compreensão da divindade. A crença em Deus como Criador traz a implicação de que uma mente e vontade divinas existem por trás do que acontece no universo. Essas diferenças entre a ciência e a teologia levaram alguns a supor que elas seriam completamente desconectadas entre si, ocupadas com formas de discurso separadas e até mesmo incomensuráveis. Se isso fosse verdade, não poderia haver um debate verdadeiro entre ciência e religião. Essa imagem de duas linguagens sem conexão tem sido popular entre cientistas que não desejam ser desrespeitosos com a religião, entendida por eles como atividade cultural, mas que tampouco querem considerar seriamente as reivindicações cognitivas da religião quanto ao conhecimento de Deus. Quando essa posição é adotada, a comparação que se segue entre ciência e teologia é frequentemente posta em termos que, na verdade, são desfavoráveis para a religião. Muitas vezes, sustenta-se que a ciência lida com fatos, ao passo que a religião supostamente se funda apenas em opiniões. Há aqui um duplo erro.”

Uma série de considerações mostra que a hipótese da independência entre ciência e teologia é muito ingênua para ser convincente. “Como?” e “Por quê?” são questões que podem ser levantadas simultaneamente e, muitas vezes, ambas devem ser consideradas se quisermos obter uma compreensão adequada da realidade. A teologia precisa ouvir a explicação científica da história do universo e determinar sua relação com a crença religiosa de que o mundo é a criação de Deus. Se há um desajuste total, alguma forma de revisão pode ser necessária. Fundamentalistas religiosos creem que tal revisão sempre teria de ser do lado da ciência, enquanto fundamentalistas cientificistas creem que a religião é simplesmente irrelevante para a compreensão do cosmo. Essas posições extremas correspondem à imagem de um conflito entre a ciência e a religião, tendo cada lado a missão de obter a vitória total no debate: uma visão seriamente distorcida que falha em reconhecer a complementaridade entre as duas formas de busca da verdade. Uma visão mais equilibrada seria a de que ambas as explicações merecem ser escrupulosamente abordadas em seu relacionamento mútuo, o que nos dá uma agenda criativa para o debate entre ciência e religião”.

Peter Harrison – Diretor do Instituto de Estudos Avançados em Humanidades na Universidade de Queensland, falou com propriedade também sobre o assunto. Vale a pena conferir a breve vídeo-entrevista no link abaixo:

Ciência e Religião são fundamentalmente distintas?

https://www.youtube.com/watch?v=ihp6y4jFrMg

É possível perceber que temos muito o que falar sobre este assunto. Pretendo trazer para este ambiente recursos que ampliem o diálogo, que possam tirar dúvidas e fomentar novas questões. Sua participação é importante! Acompanhe nossas publicações se inscrevendo em nossa newsletter no home do site. Até breve!

Guilherme de Carvalho

 

 

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