Por Greg Cootsona

“Para me preparar para esta newsletter, enviei um e-mail a um amigo meu que é cientista. Fiz uma pergunta bastante simples, esperando uma resposta sucinta. Em vez disso, ele abriu seu coração em um longo e-mail, que começou assim: “Como eu fui tratado na Igreja como cientista? Cara, essa é uma pergunta sensível para mim. A resposta simples é: não muito bem. Infelizmente, a nossa longa história de muitas vezes experimentarmos rejeição ou simplesmente sermos ignorados é uma desilusão para mim.”

Como chegamos aqui enquanto Igreja? Permita-me reunir aqui alguns tópicos a partir de minha experiência.

Após a faculdade, o meu primeiro emprego em tempo integral (como a maioria de nós) não foi na igreja, mas no mercado. Mais especificamente, eu e minha esposa tínhamos um pequeno negócio. Fazíamos esse trabalho em resposta à condução e ao chamado de Deus. Com o tempo, no entanto, comecei a considerar uma mudança de carreira para me tornar pastor. Ao compartilhar essas ideias com amigos na igreja, muitas vezes ouvia a pergunta: “então, você sente um chamado para entrar para o Ministério?”

Tenho que admitir que eu ficava intrigado (e honestamente, até um pouco ofendido) com essa pergunta. Laura e eu já não tínhamos sido chamados ao ministério no nosso trabalho de comércio? Na verdade, essa experiência me leva a uma ideia: Me pergunto se os cientistas sentem o mesmo quando as pessoas perguntam: “Qual é o seu ministério?” Muitas vezes “ministério” significa servir em um conselho da igreja ou liderar um pequeno grupo… como se cientistas descobrindo estruturas sutis da bioquímica ou sondando a vastidão do universo não importasse para Deus, aquele que criou todas as coisas com amor e com sua “boa vontade” (Apocalipse 4:11).

Em última análise, Deus me chamou ao ministério pastoral, onde servi por dezoito anos. À luz da minha experiência — e dos equívocos marcantes que ouvi na época e desde então — eu usei letra maiúscula para deixar claro o meu ponto: Não há “um” Ministério. Qualquer que seja o trabalho que realizamos, todos os cristãos são chamados por Deus a serem “ministros da reconciliação de Cristo” (2 Coríntios 5:17, itálico meu).

Paulo chega a orientar a todos os líderes da igreja, quando esta se reúne, a apoiarem os ministérios uns dos outros: “E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério” (Efésios 4:11-12).

Sem dúvida, esses versículos se aplicam ao ministério da ciência. Há uns dias atrás, ouvi o diretor da NIH Francis Collins falar no Simpósio de Inverno da ASA (American Scientific Affiliation) sobre “Lições científicas e espirituais em tempos de COVID.” Foi profundamente comovente, e não foi difícil de ver: este trabalho certamente é um ministério.


O Ministério da Ciência

O e-mail do meu amigo incluía essa palavra de encorajamento: “eu sei que as coisas estão mudando lentamente e coisas positivas estão acontecendo graças ao trabalho de pessoas como vocês [na Science for the Church] e da Biologos, e fico feliz com isso.”

Estamos tentando fazer a diferença. Drew tratará sobre cientistas nas igrejas na semana que vem. Aqui, eu traçarei um breve esboço em três tópicos que insere o ministério da ciência em um contexto mais amplo de uma teologia do trabalho.

Em primeiro lugar, Deus dá aos cientistas um trabalho a ser realizado. O trabalho não é uma maldição, é um dom. Deus deu a Adão um “campo para cultivar” (Gênesis 2:15) e, por um bom motivo, até hoje perguntamos aos cientistas: “Qual é o seu campo?” Alguns versículos mais tarde nos textos da Criação, Adão nomeou, ou classificou, os animais (Gênesis 2: 19-20), o que é essencialmente o que os cientistas fazem na criação de taxonomias.

Em segundo lugar, há futilidade em nosso trabalho. Em sua desobediência, o trabalho de Adão ficou infestado por “espinhos”, e ele teve que trabalhar com “o suor de sua testa” (Gênesis 3:17-19). Num mundo caído, segundo Eclesiastes 2:22-23, há vaidade na nossa obra: “Pois que proveito alguém tem de todo o seu trabalho e da fadiga do seu coração, em que anda trabalhando debaixo do sol? Porque todos os seus dias são cheios de dor, e o seu trabalho é desgosto; nem de noite o seu coração descansa. Também isto é vaidade.” Como os cientistas sabem muito bem, as experiências nem sempre produzem resultados, e boa parte da pesquisa parece fútil.

Finalmente, o trabalho científico é redimido por Cristo. Como Paulo diz, a nossa “obra no Senhor não é em vão” (1 Coríntios 15:58). A Bíblia de Estudos “The Word in Life”— que conecta especificamente os textos do Novo Testamento com o nosso trabalho — acrescenta outro elemento: de acordo com Apocalipse 22, haverá trabalho nos novos céus e na nova Terra. Tudo isso significa que o trabalho tem um significado profundo, e chamados para Cristo, nós — incluindo os cientistas em nossas congregações — somos enviados ao mundo em ministério. Como Paulo disse anteriormente naquela mesma carta, “assim, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo seu apelo através de nós” (2 Coríntios 5:20).

Cientistas, precisamos de vocês. Em um mundo cada vez mais moldado pela ciência e tecnologia, o trabalho de vocês importa muito para Deus.

Obrigado pelo que fazem.

Captura de tela 2021 11 17 163136 - Associação Brasileira de Cristãos na Ciência: ABC²

Texto Original publicado em: https://scienceforthechurch.org/2021/02/09/scientists-your-work-matters-to-god/

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