Por Lizzie Henderson
O que os fósseis podem nos ensinar sobre Deus? Lizzie Henderson formou-se em ciências naturais na Universidade de Cambridge e atualmente trabalha no Faraday Institute. Lizzie passou grande parte de seu tempo na Universidade estudando Geologia e Biologia Evolutiva, e é apaixonada por usar sua ciência para ajudar os outros a explorar questões de fé.
Quando criança, eu era fascinada por fósseis. Enquanto passava parte do meu tempo brincando com bonecas, construindo esconderijos e geralmente me envolvendo em travessuras, também passei muitas horas felizes vasculhando praias, jardins, estacionamentos – qualquer lugar que pudesse render esses tesouros revestidos de pedra. Isso pode parecer uma forma um pouco estranha para uma criança passar seu tempo, e me valeu alguns comentários ao longo dos anos, mas meu fascínio por fósseis só cresceu. Eventualmente contribuiu para a minha decisão de estudar Biologia Evolutiva em Cambridge.
Alguns fósseis são muito bonitos, mas esse não era o único aspecto deles que atraiu a minha imaginação. Eu era, e ainda sou, encantada com a ideia de que uma forma preservada em uma rocha que eu posso pegar do chão costumava ser uma criatura viva – algo que fazia parte de um tempo e ambiente que já se foram há muito tempo.
Assim como fotos, pinturas, cartas e outros artefatos nos dão vislumbres de tempos em que as “perucas barrocas” estavam em voga, as bicicletas vitorianas eram o meio de locomoção e pessoas distintas eram enterradas em uma pirâmide, os fósseis nos permitem vislumbrar uma história muito mais distante. Eles nos contam de tempos em que enxames de libélulas de meio metro moviam-se velozmente por florestas de samambaias gigantes, as planícies eram o lar de manadas de dinossauros e os pterossauros governavam os céus.
Os fósseis ensinam-nos era a vida se parecia, fornecendo vislumbres de um tempo pré-histórico que de outro modo seria desconhecido. A partir de fósseis podemos coletar não apenas quais criaturas estavam por aqui e como se pareciam, mas também o que comiam, como se moviam, onde viviam e até, em alguns casos, como se comportavam e interagiam umas com as outras.
Para mim, os fósseis abrem uma janela para o passado que alimenta diretamente minha compreensão de Deus como criador. É muito fácil cair na armadilha de pensar que somos o único sentido e propósito da criação – que o processo criativo de Deus era um caminho único, correndo em direção ao objetivo da humanidade. Não estou negando que somos muito especiais para Deus, mas o quadro da criação que a Bíblia pinta celebra cada momento e estágio de seu processo criativo como uma expressão totalmente única e bela de sua glória e esplendor com valor em si próprio.
Assim Deus criou os grandes animais aquáticos e os demais seres vivos que povoam as águas, de acordo com as suas espécies; e todas as aves, de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom.
Mas isso está longe de ser a única contribuição dos fósseis para a Ciência e meu apreço pelo processo criativo de Deus. Os biólogos descobriram algumas formas, estruturas e funções incrivelmente engenhosas e complexas. Ao considerarmos os fósseis, podemos começar a traçar o seu desenvolvimento ao longo do tempo, transformando o maravilhamento e a admiração pelo desconhecido em maravilhamento e admiração pela incrível natureza dos seres vivos.
Este ponto pode ser ilustrado por uma das minhas histórias favoritas de desenvolvimento. O familiar arranjo de ossos martelo-bigorna-estribo em nosso ouvido médio é uma característica definidora de todos os mamíferos vivos. O que não é tão conhecido é que dois destes ossos nem sempre desempenharam uma função auditiva no ouvido.
Os parentes vivos mais próximos dos mamíferos, as aves e os répteis, possuem apenas um osso do ouvido médio: o estribo ou “estapédio”. Então, de onde vêm os dois ossos extras no nosso ouvido médio? Os cientistas passaram 200 anos investigando esta questão, e o trabalho deles revelou-se um exemplo espetacular tanto da mudança evolutiva quanto do poder de integrar disciplinas e técnicas científicas.
Uma combinação de dados fósseis com anatomia comparativa e biologia do desenvolvimento revelou que os ossos do martelo e da bigorna no ouvido dos mamíferos são homólogos (os mesmos ossos) aos ossos “quadrado” e “articular” nas mandíbulas de aves e répteis, e também dos ancestrais dos mamíferos modernos. Três evidências principais apoiam esta ideia.
O registro fóssil permitiu que os cientistas rastreassem o desenvolvimento da mandíbula dos mamíferos a partir de uma estrutura composta semelhante à que ainda é vista em aves e répteis, até um único osso sólido. A teoria é que a seleção para fatores como força de mordida mais eficaz, fixação muscular e alinhamento dentário pode ter permitido esta mudança na função para os ossos.
Em fetos de mamíferos os ossos do martelo e da bigorna começam o seu desenvolvimento próximo da mandíbula, formando-se da mesma forma que nas aves e nos répteis e, mais tarde, movem-se para a região do ouvido. Nós também sabemos através do estudo de animais vivos que os ossos quadrado e articular da mandíbula podem ser usados para detectar vibrações, então não é surpreendente que eles também tenham se tornado úteis no ouvido.
Para mim, histórias científicas como esta mostram uma beleza espantosa. O conhecimento que ganhamos com este tipo de estudo informa, aumenta e aprofunda a minha apreciação da natureza criativa de Deus que concebeu e trouxe à existência uma variedade tão incrível, tanto agora como em todos os pontos ao longo da história.
LINK: https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/church-resources/posts/fossils-a-window-onto-gods-creation/