Foi premiado nesta terça-feira, 19 de março, com o Prêmio Templeton 2019, o físico teórico e cosmólogo brasileiro, Marcelo Gleiser. Ele tem participado ativamente do diálogo entre ciência e fé.
Gleiser (60 anos) é professor de física e astronomia e ocupa a cátedra Appleton de Filosofia Natural no Dartmouth College em Hanover, estado de New Hampshire nos Estados Unidos. Ele ganhou reconhecimento internacional por meio de livros, ensaios, blogs, documentários de TV e conferências que apresentam a ciência como uma busca espiritual para entender as origens do universo e da vida na Terra. Ele é o primeiro latino-americano a receber o Prêmio Templeton.
Por 35 anos, sua pesquisa tem examinado uma ampla gama de tópicos, desde o comportamento de campos quânticos e partículas elementares até a cosmologia do universo inicial, dinâmica das transições de fase, astrobiologia e novas medidas fundamentais de entropia e complexidade baseadas em teoria da informação, com mais de 100 artigos revisados por pares publicados até o momento.
O Prêmio Templeton, no valor de 1,1 milhão de libras esterlinas, é um dos maiores prêmios anuais individuais do mundo e homenageia uma pessoa que fez uma contribuição excepcional para afirmar a dimensão espiritual da vida, seja por insights, descoberta ou trabalhos práticos. O anúncio foi feito hoje pela John Templeton Foundation, com sede em West Conshohocken, Pensilvânia, através de seu website em www.templetonprize.org.
“O caminho para a compreensão e a exploração científica não é apenas sobre a parte material do mundo, mas também é uma parte espiritual do mundo”, disse o professor Gleiser em sua aceitação em vídeo do Prêmio em www.templetonprize.org
Trajetória
Marcelo Gleiser nasceu no Rio de Janeiro em uma família influente na comunidade judaica e recebeu uma educação conservadora em escola hebraica. Ele começou a faculdade de engenharia química, mas logo mudou para a física, formando-se bacharel pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 1981. No ano seguinte, fez mestrado em física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e, em 1986, obteve seu doutorado em física teórica pelo King’s College de Londres.
Aos 32 anos, Gleiser foi nomeado professor assistente de física e astronomia em Dartmouth e tornou-se professor titular em 1998, aos 39 anos. Durante esses anos ele se distanciou das teorias de unificação e expandiu suas visões científicas em um contexto cultural maior, resultando em seu primeiro livro “A Dança do Universo”. Outros treze livros já foram escritos por ele.
A pesquisa de Gleiser foi se direcionando para a investigação de como as propriedades da matéria mudaram à medida que o universo evoluiu, e para as forças que contrabalançam a tendência de dissipação ou decaimento de um sistema. Em 1994 ele co-descobriu os “oscillons” – pequenos e persistentes “aglomerados” de energia feitos de muitas partículas – e ele continua examinando suas notáveis propriedades. Atualmente, ele usa a teoria da informação para explorar como a estabilidade de sistemas físicos – desde escalas subatômicas até astrofísicas – está codificada na complexidade de suas formas. Ele também voltou sua atenção para a origem da vida na Terra, em particular para o papel das assimetrias bioquímicas na formação inicial de polímeros, precursores de biomoléculas complexas, e se tornou uma voz influente na crescente comunidade da astrobiologia.
Em 2016, ele fundou o ICE (Institute for Cross-Disciplinary Engagement) em Dartmouth para transformar e avançar o diálogo construtivo entre as ciências naturais e as humanidades na academia e na esfera pública, especialmente em questões fundamentais, onde reunir conhecimentos multidisciplinares é essencial. O Instituto, apoiado em parte por uma doação da John Templeton Foundation, patrocina diálogos e workshops em cidades dos Estados Unidos com cientistas, humanistas e líderes espirituais.
Ele se junta a um grupo de 48 recebedores do Prêmio, incluindo Madre Teresa, que recebeu o prêmio inaugural em 1973, o Dalai Lama (2012) e o Arcebispo Desmond Tutu (2013). O laureado de 2017 foi o filósofo americano Alvin Plantinga, cujos estudos tornaram o teísmo uma opção séria e válida dentro da academia. Os cientistas que receberam o prêmio em anos anteriores incluem Martin Rees (2011), John Barrow (2006), George Ellis (2004), Freeman Dyson (2000) e Paul Davies (1995).
Fonte: www.templetonprize.org. // Tradução Tiago Garros
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