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Células HeLa em divisão, LM. Crédito: Kevin Mackenzie, Universidade de Aberdeen. (CC BY 4.0)

Como biólogo molecular, passei cerca de 20 anos em pesquisas de laboratório. Grande parte dessa experiência consistiu em trabalhar com a hanseníase, o que me levou a vários lugares fascinantes, incluindo Etiópia, Índia – e quase uma década no Nepal. Atualmente trabalho em tempo integral para o Projeto Sociedade, Religião e Tecnologia da Igreja da Escócia (SRT) (www.srtp.org.uk), que visa ajudar a igreja a engajar com questões éticas na ciência.

Eu sempre gosto de participar das reuniões do Consórcio Escocês para Pesquisa Rural (SCRR) – é bom para ver alguns dados reais, e até mesmo o gráfico ocasional! Uma olhada na lista de organizações membros do SCRR revela um grupo que talvez seja melhor descrito como eclético, reunindo pessoas de todo o país que estão engajadas em uma ampla variedade de pesquisas.

Em uma das reuniões recentes, ouvimos uma palestra de um pesquisador da Universidade de Edimburgo sobre um projeto de biologia sintética chamado “Engineering Life” (“Fabricando Vida”). Um dos principais objetivos deste projeto multimilionário de longo prazo, que envolve pesquisadores de vários países, é gerar uma versão sintetizada do genoma da levedura de panificação comum (Saccharomyces cerevisiae)denominada “levedura 2.0”. Esta é uma iniciativa muito impressionante, e que provavelmente trará muitos benefícios e desdobramentos científicos e técnicos..

Enquanto eu refletia sobre isso posteriormente, alguns pensamentos me ocorreram. O primeiro é que sintetizar uma cópia de um genoma é algo que os organismos vivos fazem rotineiramente, e com consideravelmente menos agitação e aporte de recursos do que são necessários para gerar a levedura 2.0. Afinal, isso faz parte do processo normal de multiplicação das células. Em condições ideais, as células de levedura podem dobrar em número a cada 100 minutos. Os humanos são muito inteligentes por conseguir copiar esse processo, mas ainda temos muito a aprender sobre como fazê-lo com eficiência.

O outro pensamento que me impressionou foi que, ao sintetizar uma cópia da sequência do genoma da levedura, estamos na verdade lidando apenas com a parte fácil da genética. Embora os cientistas estejam todos familiarizados com a estrutura helicoidal dupla descoberta por Watson, Crick e seus colegas, estamos descobrindo que há muito mais em um cromossomo funcional do que simplesmente a espinha dorsal do ácido desoxirribonucleico (DNA). O DNA recebe a maioria dos aplausos e muita atenção, mas precisamos dar um passo atrás do DNA para apreciar o quadro geral.

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Por Nicolle Rager, National Science Foundation [Domínio público], via Wikimedia Commons

O fato é que, através de décadas de pesquisas meticulosas, chegamos a entender um pouco mais sobre como os cromossomos são estruturados e como eles funcionam dentro das células vivas. Agora percebemos que eles são entidades dinâmicas, envolvendo muito mais do que simplesmente o empacotamento ordenado da longa cadeia de DNA em torno de proteínas. Para que a célula funcione, as informações codificadas no DNA precisam ser acessadas. Isso é o que chamamos de “expressão gênica” – a ativação ou desativação de diferentes genes em diferentes tipos de células em diferentes momentos e em níveis variados. Isso envolve a interação de um grande número de outras moléculas.

Para mim, este mundo interior da célula (ou mais precisamente, do núcleo dentro da célula), que a biologia nos permite vislumbrar, é uma ilustração da vida da fé. A beleza da biologia é que ela é viva e responsiva. Enquanto a física e a química possuem regras e constantes, a biologia tem variedade e adaptação.

De maneira semelhante, embora a estrutura seja essencial, nossa fé viva tem um dinamismo. Quando você olha para uma sequência de DNA com sua coleção aparentemente aleatória de As, Cs, Gs e Ts, é difícil ver como isso pode carregar informações significativas. No entanto, embora a sequência específica de subunidades no DNA seja essencial para transmitir informações para a próxima geração de células, em muitos aspectos, isso é realmente apenas a estrutura em torno da qual outras moléculas desempenham suas funções.

A estrutura é essencial, mas não é toda a história. Muitas vezes, como humanos, nos perdemos nos detalhes das estruturas, e precisamos tirar um tempo para dar um passo para trás e ver o quadro mais amplo. Quando os cristãos leem as Escrituras, muitos de nós podem ter dificuldades ao passar por genealogias ou descrições detalhadas das configurações de templos ou tabernáculos do Antigo Testamento. Às vezes, podemos ficar presos nos detalhes da doutrina, em regras e regulamentos, e acabamos ficando com um legalismo árido, sem vida ou dinamismo. Às vezes nos distraímos tanto com as estruturas da Igreja – sejam edifícios físicos ou hierarquias da Igreja – que perdemos de vista o Cristo Vivo que está no coração de nossa fé.

Da mesma forma que o DNA fornece a espinha dorsal e a informação que precisa ser transmitida para a próxima geração, também nós precisamos dos detalhes, da estrutura, das doutrinas de nossa fé – as verdades imutáveis que fornecem a instrução que precisamos. Contudo, da mesma forma como o DNA não pode desempenhar sua função sem as moléculas que ligam ou desligam os genes no lugar e no tempo certos, nossa jornada de fé precisa da adaptabilidade, da capacidade de resposta e da inspiração do Espírito Santo.

 

dr murdo macdonald - Associação Brasileira de Cristãos na Ciência: ABC²O Dr. Murdo Macdonald é Diretor de Políticas do projeto Sociedade, Religião e Tecnologia (SRT) da Igreja da Escócia. Murdo passou quase 20 anos envolvido em pesquisas de pós-doutorado em várias instituições, em Glasgow, Londres e Sydney. Ele se especializou em pesquisa sobre a hanseníase em vários países, incluindo Índia, Etiópia e passou quase uma década como chefe de um importante laboratório de pesquisa de hanseníase no Nepal. Em Março de 2008, ele voltou com sua família para a Escócia para assumir o cargo de Diretor de Políticas do Projeto Sociedade, Religião e Tecnologia (SRT) da Igreja da Escócia, que analisa questões éticas na ciência. Durante seu tempo com o SRT, ele supervisionou o desenvolvimento de relatórios à Assembleia Geral da Igreja da Escócia sobre questões como neuroética e biologia sintética, bem como áreas como ética e internet, questões de fim da vida e suicídio.

 

Texto Original: https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/church-resources/posts/guest-post-the-world-within/

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